ÁGUA TRATADA PARA TODOS
Por Tállison Ferreira, Graduado em Filosofia e Editor Colaborador do Observatório da Várzea
Na aldeia de Kiriku, a vida começou a perecer quando Karabá, a feiticeira má, secou a fonte daquele povo. Ao saber que a sua aldeia estava sendo ameaçada pela feiticeira, Kiriku, uma criança, juntamente com o seu tio guerreiro decidiram lutar contra a força maligna que assolava o lugarejo onde habitavam. Citar “Karabá: a feiticeira”, filme de Michel Ocelot (1998), para falar do problema da água, vai de encontro com a promoção ou morte da vida. Ninguém vive sem água.
Nas campanhas eleitorais, o que mais se escuta? “iremos investir em saúde, segurança, educação e saneamento básico”. São realidades latentes e investimentos que quase não vemos. Será que não está na hora de mudar o discurso? Não! Porque embora essas propostas sejam óbvias, ainda há muito o que investir.
Nos tempos atuais, exige-se mais participação e corresponsabilidade social. Quem deve encabeçar essa coparticipação é a população, fiscalizando, cobrando, desfragmentando as ideias engessadas de que somente os governantes devem cumprir com os seus deveres. O povo precisa assumir uma nova postura diante das urnas eleitorais. Votar de maneira mais consciente.
A crise sanitária brasileira, que atravessamos por causa da COVID-19, crise pela qual outras mais se desdobram, aponta para um sistema colapsado. O Ministério da Saúde orienta, mais do que nunca, para o hábito de higiene. Mas como manter a higiene se muitas comunidades e boa parte dos brasileiros nem se quer tem acesso a água potável? Nesse contexto, falta dinheiro ou uma boa administração dos recursos públicos?
No Brasil, a Constituição Federal de 1988, pela Lei nº 11.445/2007, assegura o saneamento básico para todos como um conjunto dos serviços, infraestrutura e instalações operacionais de abastecimento de água, esgotamento sanitário, limpeza urbana, drenagem urbana, manejos de resíduos sólidos e de águas pluviais; no entanto, “não é o que se vê”.
Segundo a matéria veiculada pelo G1, (https://g1.globo.com/politica/noticia/2020/06/24/senado-aprova-novo-marco-legal-do-saneamento-basico-veja-ponto-a-ponto.ghtml), no dia 24 de junho de 2020, “no Brasil cerca de 35 milhões de pessoas não tem acesso à água tratada, e apenas 46% dos esgotos gerados no país são tratados.” O marco legal do saneamento básico aprovado pelo Senado (24 de junho de 2020), que segue para sanção presidencial, mostra a incapacidade administrativa do governo, em oferecer o básico a sociedade brasileira, enquanto facilita o aumento da participação privada na prestação de serviço que prevê coleta de esgoto para 90% da população até o fim de 2033.
O novo marco legal do saneamento básico no país, sinaliza, na sua essencialidade, não somente caminhos possíveis para a privatização da água, mais que isso, escancara a fragilidade de governos e governos, que por um motivo ou outro, perderam mais tempo discutindo ideologias partidárias do que somando forças para a resolução dos problemas sociais.
No último 26 de maio de 2020, a Agência CBIC, noticiou que o Governo Federal havia liberado R$ 8,1 milhões para obras de saneamento. Mais da metade dos recursos foram repassados para o município de Natal (R$ 4,1 milhões), no estado do Rio Grande do Norte/RN, para obras de saneamento integrado nos bairros de Nossa Senhora da Apresentação e Lagoa Azul. (Disponível em:
No município de Assú, a prefeitura instituiu a Política Municipal de Saneamento Básico, concedendo outras providências conforme o Projeto de Lei Municipal Nº XX/2019, (Disponível em:
Portanto, água tratada para todos é o que necessitamos e desejamos, e todos os governantes têm o dever de empreender esforços na luta constante de garantir serviços essenciais à população, uma vez em que foram eleitos para tal. Chega de “Karabás”, pessoas malignas, secando as fontes de esperança das aldeias e das comunidades, tão fragilizadas pela pobreza. Precisamos, cada vez mais, de “Kirikus”, pessoas benéficas, para defender o nosso povo, que lutem pelo bem comum e interesses da coletividade.
Estamos observando e desfragmentando…
0 Comentários