27 Jul 2024 Ellipse ATUALIZADO 03:20

Publicado

10/06/2023

Atualizado

31/01/2024
Publicação

O “Auto de São João” e o discurso forçado do “apoio” a cultura

Por: Gicardson Lima- Graduado em Letras, Inglês e Português pela UERN, Articulador Cultural, M.C., Apresentador e Editor Colaborador do Observatório da Várzea.

O retorno do espetáculo cênico, “Auto de São João Batista” sem dúvida foi sucesso de público em sua estreia. Anteriormente a isso, a noite tem seu início com o show do talentoso Isaque Galvão. Em uma apresentação minimalista, porém com o peso de uma grande expressão musical, tendo em vista seu repertório, o qual condiz perfeitamente com a temática junina que estamos vivenciando. Vale ressaltar que o músico durante sua apresentação enaltecia os artistas assuenses, sempre que encontrava espaço entre uma canção e outra. Conhecedor da realidade do teatro em Assú, Isaque externa as qualidades daqueles de fazem parte do “Auto de São João” com muita propriedade e conhecimento de causa. Uma vez que, o cantor natalense foi o primeiro a interpretar um anjo na edição do auto de 2005.

Paralelo a isso, logo após a maravilhosa apresentação de Isaque Galvão, chega o momento das falas das personalidades políticas presentes no evento. Para tanto, Yamara Santos, secretária de cultura do munícipio de Assú, expôs toda a sua perspectiva com a recém-criada secretaria. Assim como a pasta, Yamara também é uma agradável novidade dentro do executivo assuense. Assim, a secretária traz em seu discurso todo o escopo artístico experienciado por ela durante sua vida, além de uma grande vontade de fazer com que as coisas aconteçam. Dessa forma, é nítida em sua fala a presença de um espírito de esperança que soa ao tom de sua voz ao falar a todos os presentes no anfiteatro.

Por outro lado, encontramos nos discursos daqueles que já estão na vida política há algum tempo, como os da secretária adjunta de Educação, Amanda Borges; do secretário adjunto de cultura, Paulo Sérgio de Sá Leitão; bem como nos discursos do Prefeito Gustavo e do Deputado George uma pressão para vender a todo o custo a ideia de que a atual gestão valoriza e incentiva a cultura. Sendo que o “Auto de São João Batista”, não desmerecendo o espetáculo, está longe de representar o vasto universo cultural existente em Assú. Não faz muito tempo da querela entre o executivo e a Lei que viabiliza as bolsas de incentivo para a Filarmônica Cristovão Dantas; ou até mesmo como a forma indiferente na qual o artesanato é tratado, e ainda podemos destacar que se não fosse pelas organizações: Celebra-se poesia, Flor de Atenas e Academia Assuense de Letras possivelmente não ouviríamos falar em poesia na terra da poesia.

Logicamente, devemos reconhecer o grande empenho realizado pela Prefeitura do Assú e mandato legislativo estadual, ambos conduzidos pelos irmãos Soares, que o São João tem sim seu valor e reconhecimento, mesmo deixando os nomes dos artistas assuenses fora do grande evento de lançamento das festas juninas que ocorreu na praça Jota Keuli, onde os nomes das grandes atrações tiveram toda pompa e destaque da mídia estadual, enquanto, as atrações locais tiveram que se contentar com posts nas redes sociais. Será que os artistas da terra não mereciam o mesmo tratamento?

Definitivamente, a festa São João tem seu lugar cativo na cultura de Assú, pois essa tem uma lei que a reconhece como patrimônio cultural, imaterial e histórico. Algo parecido irá acontecer com os casarões, pois, só agora em 2023 despertaram o interesse daqueles que podem fazer algo para a preservação do histórico arquitetônico do centro de Assú.

Diante do que foi exposto, se é para mencionar que há apoio a cultura, onde está o fomento? Por que os artistas locais não conseguem ter destaque dentro do próprio município? Destacamos aqui figura do excepcional multitalentoso Shicó do Mamulendo, que teve que renunciar a sua vida em Assú para ter sua arte reconhecida fora de seu estado e até mesmo fora do país, para tão somente ser reconhecido em terras assuenses. Algo parecido aconteceu com o renomado artista plástico Wagner de Oliveira, que chegou a expor suas obras no Louvre, em Paris.

Indubitavelmente, não há grupos de teatro e dança que tenham surgido nos últimos 8 anos. Bem como, a escassez de bandas no mesmo período, com a exceção de conjuntos que surgem em épocas específicas como carnaval e o próprio São João. E no restante do ano o que fazem esses artistas? É inegável também, que durante todos esses anos em que a secretaria de cultura esteve subjugada a de educação, atuou muito mais criando eventos, que não deixa de ser uma espécie de incentivo, que fomentando manifestações.

Cabe a nós também, esclarecermos aos nossos representantes políticos que o termo “cultura” não anda sozinho, pois o termo “arte” é essencial para que se “faça” cultura, para que se valorize a cultura, para que a cultura exista a arte tem que ser propulsora disso tudo. A arte tem uma capacidade abrangente tanto quanto a própria cultura, pois atualmente em que conhecemos outras culturas, por conta do estreitamento proporcionado pela internet, o fazer artístico aparece como uma quebra de barreira e preconceitos. E nesse contexto, onde estão o espaço daqueles que produzem arte alternativa em nosso município?

É preciso, portanto, que haja fomento, para que as manifestações artísticas não sejam passageiras e não dependa tão somente do incentivo e valorização do poder público, sim esse é extremamente importante é garantido na constituição de 1988. Sendo que, quando falamos de valorização esperamos ter o reconhecimento do público, esse que infelizmente não valoriza os aspectos não valorizados pelas personalidades políticas, sendo esses últimos são responsáveis por garantir o real valor justo.

É importante garantir que não aconteça com outras manifestações o que aconteceu com o teatro, que após 12 anos tem suas atividades retomadas por conta do retorno do “Auto de São João Batista”. É esperado que os grupos de teatro voltem a cena, que os grupos de dança tomem seus espaços e que esses somem a outras manifestações ativas no munícipio como a literatura, música, artesanato, arte de rua dentre outras não citadas aqui, mas que merecem seu espaço. Por fim, falar do “Auto de São João” em sua noite de estreia é enaltecer o trabalho artístico dos atores e atrizes que na noite de 8 de junho brilharam com uma técnica teatral vista somente nos melhores tempos do espetáculo, que dirigido por Diana Fontes, diretora teatral de renome nacional, extraiu dos mais de 30 artistas o melhor que há neles.

A experiência da referida diretora, a qual possui um currículo sem igual, o qual há trabalhos como “Auto de Santana”, “Auto de Natal”, “Chuva de Balas no País de Mossoró” e traz aspectos técnicos os quais realçam todas as cores que faz do espetáculo um momento mágico a toda a plateia ali presente. O cenário faz referencia a cidade, o coloca o espectador dentro da cena como se esse estivesse visualizando todos os momentos como se realmente estive dentro da própria história. Juntamente com a iluminação o atmosfera mágica toma de conta juntamente com a trilha sonora, a qual retomada de outros “autos de São João” passados, apelando para uma deliciosa dose de nostalgia, fazendo com quem esteja assistindo comtemple duas viagens, uma na história do martírio de João Batista, e a outra dentro do próprio histórico do espetáculo cênico. Vale a pena sim conferir as três exibições do “Auto de São João Batista” que finaliza no dia 10 junho às 20h no Anfiteatro Acelino Costa Leitão.

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