O sorriso de Sara Alessandra
Por Igor Apolônio: Engenheiro Agrônomo pela UFERSA, Especialista em Educação Ambiental e Editor Colaborador do Observatório da Várzea.
Sara Alessandra Gomes Messias nasceu no dia 19 de fevereiro de 2007. Neste mesmo dia, a França aboliu constitucionalmente a pena de morte, mas as sentenças sociais em todo o mundo continuam matando pessoas.
Conheci Sarinha ainda criança; o sorriso já era sua marca registrada. Meiga e carinhosa, ela cativava fácil qualquer um. Foi a primeira filha de Jemima, mãe que ainda muito jovem já precisou superar muitas coisas, mas tinha nítida a sua realização em ser mãe e em ter cuidados de amor com a filha. Dentro de uma família grande e unida, Sara sempre recebeu amor e atenção de tantas pessoas que acredito ter sido difícil enfrentar a realidade do mundo.
Todos nós precisamos enfrentar medos, tramas e imperfeições. Somos todos tão frágeis e inseguros. Mas com que régua podemos medir medos? E como quantificar a dor? Não existe fórmula matemática que possa dimensionar o acumulativo que nossas diferentes mentes e versões reproduzem.
Mesmo assim, Sarinha sorria e ia se equilibrando entre o que o seu sorriso demonstrava e o que a sua mente pensava. É que nem sempre é simples se abrir e nem sempre é fácil se expressar, mas a depressão é uma doença traiçoeira.
No dia 14 de dezembro de 2023, Sara cometeu suicídio na casa da sua mãe no bairro Vertentes em Assú. Uma adolescente com um sorriso encantador sucumbiu em suas dores e acreditou que a única opção para superar a insegurança e a ausência de perspectivas seria não continuar vivendo. Quem somos nós para julgar?
Em suas redes sociais, a psicóloga Iara Oliveira comentou sobre a ausência de senso nas pessoas que compartilharam nas redes sociais fotos do acontecido e da carta que a jovem deixou endereçada à família. As pessoas parecem frenéticas com acontecimentos como esse, mas parecem inertes em debater a prevenção imediata para que tragédias como essa não se repitam.
Alguns culparam Sara, outros culpam terceiros, mas ninguém parece se culpar e se sentir minimamente responsável por comentários indevidos e atribuir depressão à frescura, à falta de Deus ou tratar os sintomas como uma fase. É inadmissível que não existam políticas de incentivo a acompanhamentos psicológicos de fácil acesso na saúde pública, sobretudo em bairros de população com maior índice de vulnerabilidade social. Depressão são existe só no mês de setembro.
No auge da dor pela perda da filha, a mãe agradeceu aos amigos da escola que foram se despedir e à família que chorava junto com ela pela sua dor e pediu para lembrarmos das coisas boas de Sara. Por isso, concluo esse texto com a mesma frase que escolhi para o título, que é o que nem a tragédia poderá apagar de nossas mentes: o sorriso de Sara.
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