PAREM DE VIOLENTAR NOSSAS CRIANÇAS
Nosso editorial é escrito em conjunto com os editores que colaboram com o Observatório da Várzea e expressa nossa posição em relação aos últimos fatos envolvendo o tema na região da Várzea
Existem inúmeras maneiras de violência. Muitas delas, não são físicas, mas deixam marcas profundas, especialmente quando se trata de violência psicológica e moral. Em casos extremos, quando provocam escândalos, as reações de quem está em volta são, por vezes, surpreendentes e, não raro, revoltantes, pois as vítimas carregam o pesado fardo de provarem que são vítimas, num ciclo de violência sem fim.
Dizem: “Porque não denunciou antes?”; “Porque os pais deixavam?”; “Eu acho que estão mentindo, criança mente”; “Eu o conheço a bastante tempo”. Essas são algumas falas que muitos dizem quando se expõe casos de abuso! Alguém já parou pra imaginar se seus filhos relatassem algo tão grave e inimaginável por alguém que se confiava?
Falamos aqui sobre a história do lobo mau e tornamos a repetir que não está escrito “quem é bom e quem não é”! Um olhar inocente, uma fala, uma afirmação, um sinal. Sim, as crianças dão um sinal de que algo não está bem! Daí a importância de se acreditar, de ensinar, mesmo que não ache que é a idade certa ou que ainda não está na hora de conversar sobre assuntos como esse! Não se trata de acusar um suspeito, ou mesmo condená-lo. Trata-se de dar às crianças a credibilidade que elas merecem.
Colocar-se no lugar do outro sempre foi uma regra mas, talvez, custe ser exercitada. Na sociedade atual, muito se fala, também, no direito de fala. Mas porque uma comunidade inteira não deu o direito de fala às crianças? Seria apenas pelo fato de serem crianças? As atitudes de exposição, julgamento e apontamentos, até mesmo de líderes e pais que, friamente culpam crianças e famílias, é uma outra violência que, talvez, seja o motivo de existirem tantos casos impunes em todo mundo! A sociedade não aceita que exista isso no seu bairro, na comunidade e mesmo na própria família. Por isso, sempre calaram as crianças!
Mas, um dia, alguém se encoraja, alguém fala e, ao poder da fala que se é dado, se torna um escândalo porque a sociedade, mais uma vez, ao invés de acolher as vítimas procura vitimizar o abusador e dizer que é injusto tudo que aconteceu! Poderíamos, ao invés disso, nos perguntar: como estão as crianças? Como estão as mães?
Desta maneira, fica difícil explicar às crianças que tudo vai voltar ao normal, se temos a sociedade julgando-as e friamente acusando-as de serem mentirosas, coagindo-as muitas vezes a duvidarem da própria fala. Querendo distorcer suas falas e certezas de que as próprias tem!
Se pudéssemos dizer uma palavra, às mães diríamos: Não se calem, não se omitam. Deem voz e falem por seus filhos também. Confiem neles, orientem. A todos que exercem vez e voz às crianças e adolescente, diríamos: Parabéns! Vocês são especiais! À toda a sociedade, diríamos: PAREM DE VIOLENTAR NOSSAS CRIANÇAS!
Estamos observando…
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