“Um bispado para Assú”
A discursão sobre Assú se tornar uma sede diocesana é bastante antiga; contudo, o sonho de se tornar realidade parece distante, embora não esteja tão distante assim. Mas não basta dizer: “Assú pode ser sede diocesana”. É preciso uma luta que envolva a população, os fiéis leigos, que despertem para esse projeto que não é impossivel se concretizar. Potencial existe e gente disposta para trabalhar nessa perspectiva também.
Segue o artigo do Pe. João Medeiros Filho sobre “UM BISPADO PARA ASSÚ”.
Câmara Cascudo, ícone da erudição e cultura potiguar, em “História do Rio Grande do Norte”, menciona a paróquia de São João Batista de Assú, como a segunda a ser criada em nosso estado. Isto ocorreu em 1726, no pontificado de Dom José de Fialho, bispo de Olinda. Seguiu-se à provisão canônica um decreto régio, em virtude da vigência do Padroado em Portugal. Entretanto, o historiador caicoense Monsenhor Francisco Severiano de Figueiredo assegura, em “História Eclesiástica da Parayba”, que Goianinha é canonicamente a segunda paróquia norte-rio-grandense. Em 1690, Dom Matias de Figueiredo e Mello erigiu aquela freguesia, dedicando-a a Nossa Senhora dos Prazeres. O citado sacerdote aventa a hipótese de extravio da documentação na Corte, não tendo recebido o edito real, perdendo a validade por força da Concordata. O ato oficial civil só veio a ser publicado em 1746, após a recomposição do processo e as tratativas de Dom Luiz de Santa Teresa da Cruz, quando bispo olindense. O sucessor de Dom Matias Figueiredo foi o religioso carmelita Dom Francisco Lemos. Este incentivou os confrades (por ele enviados à região mossoroense) a pensar numa futura paróquia. Favorecia a localização de Assú, no centro da Província. Ali, eram missionários os jesuítas, destacando-se em 1714 o Padre Miguel de Carvalho. O processo teve tramitação célere, em razão da distância de Natal, sede da única paróquia.
Há mais de oito décadas, não se erige no território potiguar uma diocese. A população norte-rio-grandense em 1940, quando da instalação do bispado caicoense, contava 768.018 habitantes. Em 2021, consoante dados da Santa Sé, reproduzidos pelo site “Catholic Hierarchy”, o estado potiguar detinha 3,4 milhões de habitantes, dos quais 85% católicos. Hoje, apenas a população da diocese mossoroense ultrapassa o número de habitantes do RN naquele ano. É importante que os pastores atuais possam dizer, como Cristo: “Eu conheço as minhas ovelhas e elas me conhecem” (Jo 10, 14).
Dom João dos Santos Cardoso, arcebispo de Natal, sabiamente em sua primeira Carta Pastoral aos cristãos potiguares, manifesta o desejo de criar mais um bispado com terras desmembradas da arquidiocese. Expressa-se o nosso metropolita, no item 165 daquele documento: “Iniciar o processo de criação de uma nova diocese para melhor atender as necessidades específicas das regiões pastorais.” Referiu-se a um ponto fundamental: a especificidade das microrregiões. A paróquia de São João Batista de Assú canonicamente pertence à diocese de Mossoró. Caberá, portanto, a seu bispo pleitear a constituição de uma nova igreja diocesana. Para tanto deverá ter o assentimento dos titulares de outros bispados, caso algumas das paróquias de suas jurisdições venham a integrar a futura circunscrição.
Desde 2001, tenho me manifestado sobre o assunto, em artigos publicados nos jornais: A Verdade, Jornal de Hoje e Tribuna do Norte. Atualmente, a densidade demográfica das dioceses potiguares (1, 1 milhão de hab.) supera a média nacional (750 mil). Caso sejam criadas mais duas sedes episcopais no RN, resultaria numa média de setecentos mil habitantes por circunscrição eclesiástica. De acordo com estudos do Vaticano, o ideal em população para uma diocese é não ultrapassar quinhentos mil habitantes. É relevante também o fator da distância. Por exemplo, São Rafael dista 220 km da sede arquidiocesana. “Não há quem não compreenda quão útil seja para as igrejas demasiado extensas a divisão em novas dioceses”, escreveu São Paulo VI, na Bula “Quantum conferat”, erigindo a diocese de Jundiaí (SP).
Assú é polo regional, em torno do qual gravitam vários municípios. Sua vocação de liderança manifesta-se no comércio, na indústria, atividade agropastoril, fruticultura e oferta de serviços. Trata-se de um centro cultural e acadêmico com instituições de ensino públicas e particulares de nível fundamental, médio e superior. Acolhe muitos funcionários de empresas sediadas em municípios vizinhos, tendo a vida familiar, social, financeira e religiosa voltada para “a terra dos poetas”. Esta possui hoje uma população (58 mil) cinco vezes maior que a de Caicó, ao se tornar bispado e quase o triplo de habitantes de Mossoró, quando constituída em sé episcopal. Natal, ao ser alçada à condição de bispado, tinha menos de trinta mil pessoas. Disse Cristo: “Ide pelo mundo inteiro e pregai o Evangelho a toda criatura” (Mc 16, 15).
Padre João Medeiros Filho
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