27 Jul 2024 Ellipse ATUALIZADO 01:25

Publicado

21/08/2023

Atualizado

31/01/2024
Publicação

A redenção ou a problematização do Vale do Açu

Por Ayslann Tôdayochy, Mestre em Manejo de Solo e Água (UFERSA), Engenheiro Agrícola e Ambiental (UFERSA), Bacharel em Ciências e Tecnologia (UFERSA), Estudante de Engenharia de Produção (UFERSA) e Editor Colaborador do Observatório da Várzea.

Quem transita pela BR-304 no sentido Assú-Mossoró já deve ter visto os diversos parques fotovoltaicos “florescerem”. Assim como, quem vai no sentido Assú-Natal, são os aerogeradores os protagonistas no horizonte que estão cada vez mais deixando o litoral e migrando para o interior em busca dos ventos fortes.

Diversas empresas do ramo das energias renováveis, sobretudo de energia solar ou fotovoltaica, têm surgido no Vale do Açu, algumas multinacionais, que se instalaram em busca do “solzão” (radiação solar) presente na terra da poesia, gerando emprego e renda a muitas famílias. Mas até que ponto a energia renovável é realmente sustentável ou considerada “limpa”?

Sabemos que, para projetos dessa magnitude, são realizados diversos estudos de viabilidade econômica e ambiental, por exemplo. Esse último, a fim de mitigar os efeitos danosos que esse tipo de empreendimento acarreta. Apesar de serem consideradas não poluentes, nenhuma geração de energia é considerada 100% limpa. No caso da energia fotovoltaica, os impactos à biota são inúmeros, como a supressão vegetal (desmatamento) de grandes áreas e a tendência à desertificação no semiárido, o sombreamento ocasionado pelos módulos solares, a necessidade de remanejamento dos animais que ocupam aquela área para outros locais, o que pode causar mudança nos padrões de alimentação deles, dentre outros.

Pois é este o cenário que, provavelmente, está acontecendo em Assú. Segundo o Grupo Lagoa Viva, depois do surgimento dos empreendimentos de energia fotovoltaica, o município tem sido “invadido” por abelhas, que procuram locais para instalar sua colmeia, sendo necessário acionar o corpo de bombeiros para a retirada dos insetos por diversas vezes, conforme relatos de moradores. Importante destacar que, em recentes estudos realizados na UFERSA e UERN, em Areia Branca e Serra do Mel já há um indicativo do desaparecimento da fauna de abelhas após a instalação de torres de energia eólica. Outro ponto levantado pelo grupo foi a falta de esclarecimento em relação a alguns questionamentos realizados a empresas do ramo durante reunião na FLONA (Floresta Nacional do Açu), principalmente sobre a vida útil dos módulos solares e a destinação das placas após conclusa a sua vida útil.

Em tempo, já há estudos que comprovam a eficácia de um consórcio entre a geração de energia fotovoltaica com a criação de ovelhas e abelhas¹. De acordo com o estudo, o consórcio trouxe benefícios para os criadores de ovelhas, pois houve o fornecimento de áreas para a expansão da criação desses animais, que contribuíam para o controle de plantas, já que antes o controle era feito com o uso de produtos químicos. Em relação às abelhas, há outro estudo² que sugere as “usinas fotovoltaicas amigáveis às abelhas”, implantadas no Brasil, que são instalações de energia solar projetadas para beneficiarem as abelhas, e outros que já são sucesso no mundo³, como o projeto “Mel Solar”. Ambas iniciativas poderiam ser implantadas no Assú e agregar ainda mais valor e transformar esses espaços em áreas ainda mais sustentáveis.

Estamos observando…

Referências

MELO, Jayane Pereira. A percepção da comunidade sobre as ações de responsabilidade socioambiental das empresas produtoras de energia eólica no município de Serra do Mel/RN. Monografia (graduação) – Universidade Federal Rural do Semiárido, Curso de Administração, 2020.

FELIX, Stênio Freitas. Índice de vulnerabilidade, percepção e impactos socioambientais de parque eólico na comunidade de São Cristovão, Areia Branca – RN. Dissertação (Mestrado em Programa de Pós-Graduação em Ciências Naturais). Universidade do Estado do Rio Grande do Norte. Mossoró, 2018.

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