O cemitério das árvores
Por Pedro Henrique, poeta e escritor. Bacharel em Direito (UERN), Especialista em Direito Digital (Faculdade Verbo), mestrando em Estudos Urbanos e Regionais (UFRN) e Editor Colaborador do Observatório da Várzea.
Não recordo a primeira vez que me aproximei de uma árvore, mas me lembro bem de nossa conexão. Meu primeiro amigo foi um umbuzeiro que, de tão frondoso, pôde suportar meus segredos e reclamações de criança. Passávamos horas juntos, e eu me aventurava entre galhos, folhas e umbus. Era o tempo em que eu podia imaginar e criar mundos sem o peso do cotidiano.
As árvores têm esse poder: dão abrigo e acolhida para pássaros e todo tipo de animal, incluindo os humanos, possibilitando um encontro com a vida para a qual estamos predestinados. Arrisco-me a dizer que não há um vivente que nunca tenha usufruído do carinho de uma árvore, seja em forma de sombra, um ar puro, um fruto doce, ou com o encantamento dos olhos por sua beleza.
Meu segundo amigo foi um cajueiro. Acompanhei-o por muitos anos e fui alimentado por cajus que me mancharam todo de nódoas. Não entendia como aquele cajueiro, mesmo com seus cajus todos comidos por lagartas de fogo, continuava estranhamente verde e vivo. Entendi que mesmo machucada, uma árvore consegue frutificar e ser morada. Foi aí que tive um dos grandes aprendizados: se é possível uma árvore resistir à fúria de uma lagarta faminta, também poderemos florescer diante das intempéries de nossa existência terrena.
É difícil entender como humanos cortam árvores ao meio e, mesmo vendo-as sangrarem, gritarem, as pessoas seguem seus dias trabalhando, comendo, vivendo como se nada tivesse acontecido. Que vida é essa que se alimenta da morte? Por que assassinar uma árvore? Por acaso nossa vida é mais importante que uma árvore? Aonde queremos chegar?
Não tenho muitas certezas nesta vida, mas de uma coisa eu sei: um dia, talvez não muito distante, precisaremos de um ninho e teremos de arcar com o peso da tragédia que estamos criando. Teremos de ir ao cemitério das árvores para um encontro com a morte. Felizes aqueles que tiverem aprendido com as árvores.
Estamos observando…
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